domingo, 5 de junho de 2011

80 weeks (Outono)

Com um pouco de dificuldade, ela conseguiu abrir os olhos. Estavam inchados, e relutaram em abrir. Quando conseguiu se arrastar até o espelho, viu que os cabelos estavam desgrenhados, e havia rímel borrada até sua bochecha; a cabeça ainda latejava e garganta queimava cheia de sede. Após um analgésico e um bom banho quente, ela percebeu que tudo que ocorrera na noite anterior não fora um sonho ruim...

Já fazia cerca de cinquenta semanas que vira pela primeira vez o sorriso de Daniel, e agora não sabia se iria vê-lo novamente. Ele se afastou dela assim como quando o Verão chega ao fim, com uma sensação fria inesperada, gelada; e que faz você querer se esconder debaixo do cobertor até o frio passar.

Isabel se escondeu por algumas semanas, mas logo não suportava mais a sua própria companhia, estava colhendo o que plantou, assim como os agricultores fazem no Outono. Ela sempre soubera o quão perigoso era o relacionamento que se enfiara, mas sempre tivera a tênue esperança que isso não fosse acontecer.

-Acho que o destino se atrasou em nos apresentar.
-Como assim?
-É, sei lá - Daniel riu tentando manter a garota no seu colo, mesmo que sem o consentimento dela. - se eu tivesse te conhecido dois meses antes, talvez eu fosse seu namorado agora.
-Será?
-Ou talvez não... - ele acrescentou - acho que o que a gente tem, só é tão intenso porque o destino se atrasou.
-Então isso foi bom ou ruim?
-Bom - ele sorriu e puxou-a pelo queixo para mais perto de si - ele pode ter se atrasado, mas pelo menos me trouxe você.

Daniel lembrou disso enquanto relia uma carta que Isabel lhe dera há tempos atrás. Era da época em que ela ainda namorava. Sentiu um nó na garganta, e discou o número dela, mas desistiu antes de completar a ligação.

Ele sentia um desconforto enorme. Tinha que conversar com ela.

-Eu queria só explicar. Eu realmente te amei, e realmente te quero muito bem, por isso estou me afastando de você.
-Isso não faz sentido nenhum - ela protestou sem saber como reagir. As lágrimas já haviam secado, assim como as folhas que haviam caído das árvores no jardim.
-Eu sei que não faz, por isso mesmo estou te dizendo. Eu sou assim frio, eu machuco as pessoas.
Ela não sabia o que responder, não havia o que dizer.
-E por isso estou indo embora, porque não dá mais pra continuar, não do jeito que tá. E acho que nada vai mudar, porque eu não deixo as coisas mudarem.
Ele se referia a sua insistencia de manter o relacionamento deles escondido.
-Se você quer assim - foi a única resposta que ela conseguiu dar.
-É o que eu quero. Que você seja feliz, longe de mim. Você merece alguém bem melhor que eu... E enquanto eu estiver na sua vida, tudo vai ser uma confusão.
-Ok então.

Ele ficou sem saber o que falar. Não esperava que ela acatasse ao que ele disesse sem um discussão. Mas ela mudara.
Isabel deitou a cabeça no travesseiro, e se sentiu forte. Sentiu também que seu peito não mais estava úmido pelas lágrimas que derramara nas últimas vinte semanas.
Agora estava tudo seco. E frio, como o Inverno que preenchera todo seu coração.

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